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A história contada pela
caça ou pelo caçador?
Perspectivas sobre o Brasil
em Angola e Moçambique

Ana Saggioro Garcia

Karina Kato

Camila Fontes

 

 

"O projeto de pesquisa situa-se na atualidade das relações entre Brasil e África. Com o governo Lula, a África ganhou relevância sem precedentes na política externa brasileira, voltando-se para outros países e regiões do Sul global. Segundo Sombra Saraiva (2010), a ampliação da agenda

brasileira para a África, a partir de 2003, refletiu a combinação de mudanças ideológicas e estratégicas

inauguradas com o governo Lula. A “volta” da África à política brasileira se daria sobre novas bases, ultrapassando parcialmente o discurso culturalista tradicional e legitimando-se na própria sociedade brasileira num consenso político e social amplo nas instituições, universidades, parlamento, grupos afro-brasileiros, empresas e agentes públicos interessados. A dívida histórica e moral passava a ser reconhecida não somente por Lula em seus discursos, mas legitimada por boa parte da sociedade brasileira (SOMBRA SARAIVA, 2010, p. 179).

A nova política externa para a África se expressou nas visitas presidenciais ao continente. Em oito anos de governo, o presidente Lula visitou 29 países em dez viagens, ultrapassando a somatória de todos os governos anteriores (MINISTERIO DE RELACOES EXTERIORES 2010). Das 35 novas embaixadas abertas durante esse governo, 16 se localizaram na África. Para Celso Amorim (2011), Lula revelou-se “o mais africano dos presidentes. Pediu perdão pelos crimes da escravidão, visitou mais de duas dezenas de países e abriu caminho para ações de cooperação e negócios”. Segundo o ex-chanceler, o Brasil seria visto, por diversos países do continente, como um modelo a ser seguido, afirmando que “para cada problema africano existe uma solução brasileira”.

De acordo com um recente documento conjunto do IPEA e Banco Mundial, os laços históricos e culturais do Brasil com o continente africano diferenciariam o país dos demais membros dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). O sucesso econômico do Brasil, sua atuação no

cenário internacional e suas políticas sociais nacionais bem-sucedidas seriam “lições” para os países africanos. A atuação brasileira e seus investimentos, mais do que competição por recursos, envolveriam em grande parte a cooperação, a assistência técnica e a transferência de tecnologias.

De acordo com essas instituições “a nova África coincide com o Brasil global” (IPEA & BANCO MUNDIAL 2011, p. 3, grifo nosso)."

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