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Conjunto Escola Parque
Cadernos do Ipac
Ipac
"Quando se fala do “renascimento baiano”, a partir do final dos anos 40 e, em especial, nos anos 50 e 60, as lembranças e homenagens sempre recaem sobre o Reitor Edgard Santos, dirigente da Universidade da Bahia de 1946 até 1961 e fundador das pioneiras escolas universitárias de Artes: Dança, Música e Teatro. Sem desconsiderar a importância de Edgard Santos, necessário se faz entender a conjuntura vivenciada pela Bahia naqueles anos, com mudanças sociais, econômicas e políticas significativas.
Basta recordar a descoberta do petróleo, em Lobato, a criação da Petrobras e sua instalação na Bahia, a atuação inovadora de Rômulo Almeida, na confecção de um planejamento estadual, e muitos outros acontecimentos e agentes atuantes na conformação do “renascimento baiano”. Sem dúvida, aqueles criativos anos têm impacto notável sobre a “Cidade da Bahia”, adormecida como “boa terra”, até o final dos anos 40.
Dentre esses acontecimentos e agentes, não dá para esquecer a fulgurante figura de Anísio Teixeira e sua marcante passagem pela Secretaria de Educação e Saúde do Governo Octávio Mangabeira (1947-1951). A afirmação consensual de Anísio Teixeira como um dos mais importantes educadores brasileiros talvez tenha inibido o reconhecimento de seu lugar relevante na cultura e nas políticas culturais na Bahia e no Brasil. Algo semelhante ocorre a outro educador famoso, Paulo Freire. A sua contribuição à cultura e às políticas culturais, alicerçada nas articulações que sempre enfatizou entre educação e cultura e no Movimento de Cultura Popular, até hoje ensejou poucos estudos animados
por este olhar cultural.
Três movimentos recentes colocaram em cena a relação entre Anísio Teixeira, a cultura e as políticas culturais e começam a superar esse injusto esquecimento: a publicação mais longínqua do livro Anísio em Movimento (1992, com reedição em 2002), organizado pelo Professor João Augusto de Lima Rocha, que traz interessantes textos e depoimentos sobre algumas ações artísticas e culturais decorrentes do trabalho de Anísio Teixeira; mais recente, a Tese de Doutorado de Juciara Barbosa, no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, que enfoca, de modo mais sistemático, justamente a dimensão cultural quase esquecida da atuação de Anísio Teixeira e dá passos relevantes para o reconhecimento de sua atuação cultural e, por fim, a colaboração entre as Secretarias Estaduais de Educação e de Cultura, com a intervenção do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, para restaurar os painéis modernistas encomendados por Anísio aos artistas baianos para seu projeto educacional mais representativo, a Escola Parque.
Esses três episódios, com uma temporalidade próxima, expressam as essenciais conexões de Anísio Teixeira com a cultura. Obviamente, seu olhar atento para a educação já destina também a essa um lugar privilegiado. Mas a valorização da cultura por Anísio Teixeira não se reduz à conexão entre educação e cultura, por mais importante e vital que ela tenha sido para ele. Ela vai muito além dela.
A escolha de jovens artistas baianos modernistas para trabalhar os painéis de seu projeto mais emblemático demonstra seu vinculo umbilical com a cultura e a arte moderna. O gesto manifesta coragem, ao optar por jovens artistas quase desconhecidos em um ambiente no qual o modernismo cultural ainda não havia se instalado, apesar de a Semana de Arte Moderna de 22 já ter acontecido há mais de 20 anos. Conservadora, a Bahia resistiu ao modernismo cultural até quase o final dos anos 40.
Só a partir de então, através de muitas lutas, o modernismo cultural conseguiu se consolidar na Bahia.
Anísio Teixeira, à frente da Secretaria Estadual de Educação e Saúde, órgão que englobava a cultura, ocupou lugar de destaque nesse enfrentamento."
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