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Descolonização Curricular
A Filosofia Africana no Ensino Médio
Luis Thiago Freire Dantas

"Ou um passo a frente e já não estamos no mesmo lugar

PUBLICAÇÃO deste livro tem como motivação o deslocamento intelectual ocorrido durante a minha trajetória intelectual. Isso porque no decorrer da minha graduação e do mestrado concordava com o discurso acadêmico que defende a ideia de filosofia enquanto uma formação de pensamento estritamente europeia, de origem grega, cuja sustentação é formada pela tríade Sócrates,Platão e Aristóteles. Outro quesito é que apesar  da origem humilde, eu reproduzia o ideal elitista da filosofia de que para se tornar um “filósofo” no sentido mais comum do termo era necessário dedicar-me somente aos estudos, já que destinaria tempo ao trabalho quando alcançasse a vaga de professor em uma universidade.Diante desses aspectos, o interesse inicialmente consistiu em pesquisar um dos pensadores hegemônicos, no caso Heidegger.

Além disso, criei uma resistência em lecionar no ensino médio que representava, para essa compreensão reduzida de mundo, um atraso na construção da minha carreira acadêmica. Entretanto, no meio do caminho houve uma mudança que rompeu com ambas as ideias e apresentou o grande equívoco que eu tinha de compreensão de mundo e de pensamento. O princípio da mudança ocorreu quase no término do mestrado em filosofia na UFPR, em que passei a participar de um grupo de leitura de textos africanos em língua francesa, organizado no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UFPR). As leituras de filósofos camaroneses como Marcien Towa (2009; 2011), NkoloFoé (2013) e do congolês Théophile Obenga (1990)fizeram-me perceber a existência da Filosofia Africana e que ela era de origem milenar.O principal destaque dessas leituras concernia à filosofia não ser uma produção originariamente grega, pois o Egito antigo havia fornecido as bases do pensamento grego e, ainda, havia egípcios que elaboravam uma filosofia própria. Nesse tempo,também ingressei na especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais, promovida pelo NEAB/UFPR e que me permitiu um aprofundamento nos assuntos até então marginalizados ou nem se quer notados.

Assim, os conhecimentos provenientes dos módulos das disciplinas foram fundamentais na percepção do racismo anti negro atuando em vários setores sociais e, também, evidenciando como algumas ações buscavam afirmar um grupo historicamente discriminado e reestabelecer  o lugar

da população negra na “formação do povo brasileiro” (RIBEIRO, 2014). Acrescentado a isso, a intensificação das leituras dos filósofos africanos em suas diversas correntes de pensamento, incentivaram-me na construção de um projeto de doutorado que abordaria a filosofia de Towa (2009; 2011) contrapondo-se ao ideal de modernidade a partir de uma tradição que localiza o europeu como centro. Com o meu ingresso no doutorado e a ausência de bolsa no primeiro semestre, houve a necessidade de lecionar filosofia no ensino médio. Nesse conjunto de mudanças, a ideia de elaborar uma monografia que atendesse tanto a interesses próprios quanto à regulamentação da especialização motivou o tema desta pesquisa: a contribuição da Filosofia Africana para a disciplina de filosofia no ensino médio..."

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