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Desterro
Literatura marginal
Ferrez & Demaio

"HQ Desterro retrata a dura vida nas periferias paulistas, numa narrativa alucinante e envolvente

 

Por Carlos Minuano

 

Quem acha que contracultura é coisa dos hippies da década de 1960 que se dirija à quebrada mais próxima – são muitas as opções se estiver em São Paulo. Antes apenas destaques em índices de criminalidade, esses bairros distantes do centro atualmente chamam a atenção mais por sua intensa atividade cultural, na forma do hip-hop, do grafite, do samba, do teatro, do cinema, da literatura, entre outras expressões artísticas. Pelas periferias de todo o planeta brotam catalisadores de uma revolução cultural que está apenas começando. São lugares onde o conhecido bordão hippie, make love not war, certamente pode ser substituído por make culture not war, como um recado direto sobretudo às esferas mais elevadas do poder, que insistem em não olhar para além do umbigo, ignorando a própria história e cultura.

A produção (contra) cultural dessas regiões – que vale dizer, não é de hoje – representa um contundente exemplo de que a transformação das realidades locais não precisa de armas. Ela depende muito menos de força policial e mais de questões básicas, como educação, saúde, transporte, lazer, diversão e, claro, muita arte.

 

Entretanto, infelizmente elas (as armas) ainda estão lá, ceifando vidas e alimentando a pauta policial dos jornais. Evidente que o recente crescimento da violência nas periferias é uma equação de muitos fatores, mas é também resultado da ação truculenta de uma parte (não pequena) da polícia, racista e corrupta.

 

Esse contexto infeliz, por outro lado, aproxima ainda mais os ativistas das quebradas aos revolucionários de décadas atrás. A ação cultural ganha dimensão de resistência. Nos vários saraus, na música, na atitude.

 

É também o cenário onde se insere a HQ Desterro."

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