Revista O Menelick 2º Ato
Edição VII
Zumbi dos Palmares é o nome que vêm à cabeça de qualquer brasilei - ro quando se pensa em população negra e na luta contra a opressão pautada na questão racial. Tornou-se sinônimo de liberdade, união e solidariedade. No imaginário popular ele foi uma espécie de Robin Hood brasileiro e negro: tirava dos senhores de engenho para dar aos irmãos negros ex-cativos. Como se seu papel à frente do quilombo mais importante das Américas, Palmares, fundado em 1590 na Serra da Barriga, fosse o de garantir que todos os bens fossem igualmente repartidos; de ser benevolente e justo com todos e, ao mesmo tempo, demonstrar uma atitude guerreira; ou que se sacrificava pelos demais, quase tendo a sua figura relacionada à de Cristo neste sentido do al - truísmo. Ou seja, o grande salvador dos irmãos negros. Pois bem, a pessoa física Zumbi dos Palmares difere, em alguns as - pectos, da do mito fortalecido pela oralidade. Por exemplo, ele teve escravos e foi coroinha! Calma, tudo pode ser contextualizado... Ele é reconhecido mundialmente como herói e comparado aos maiores estrategistas bélicos da História (Napoleão Bonaparte e Alexandre, “O Grande”, dentre outros). Mas, talvez este mito tenha se sedimen - tado desta forma também porque, como população marginalizada, negligenciada e desprestigiada pelos poderes públicos, há pouquís - simas figuras negras registradas pela historiografia oficial brasileira que sejam referenciais para a construção de autoestimas positivas de crianças e jovens negros, futuros adultos, cidadãos. Não que elas não tenham existido, sabemos que existiram e que a escolha dos saberes que se ensinam é realizada com o objetivo de se manter a hegemo - nia de certo segmento étnico e socioeconômico dentro da sociedade brasileira a partir de pressupostos ideológicos e políticos. Para citar um exemplo, o líder da Revolta da Chibata (1910), João Candido (1880 - 1969), nem aparece citado na maioria dos livros escolares. Mas, voltando a Zumbi, quem terá sido este homem?