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Quem tem medo da Capoeira?

Luiz Sérgio Dias

"Uma tarde qualquer de 1887, houve um desfile insolente no Centro do Rio. Quem tomar-nos a frente morre, iam avisando. Tomaram a Sete de Setembro, a Uruguaiana, depois o largo da Carioca e se dispersaram na São José. Quem tomar-nos a frente morre, não paravam de avisar os comandantes do préstito, entre gingas e lampejos de navalha. Os espectadores, encostando-se às paredes, refugiando-se dentro das lojas, benzendo-se, o que sentiram: horror, fascínio, satisfação, vergonha? Não sabemos, mas contar é a graça eterna da História. Marc Bloch, pouco antes de ser fuzilado pela Gestapo, escreveu que a História serve sobretudo para divertir. Como a História diverte? Fazendo-nos viver outras experiências na pele de outros homens em outros tempos, em outros lugares da Terra. A História como a Literatura não passam, pois, de uma prática da alteridade. Além de divertir, os historiadores devem nos explicar como tudo começou, como essa rua, esse costume, essa lei, esse império se tomou o que é, como o tempo lhe foi dando a qualidade que hoje tem. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todo o mundo é feito de mudanças, advertiu Camões, concluindo que uma mudança há de mor espanto, é que não se muda já como soía. Aos historiadores pedimos também que nos expliquem como a sociedade funciona, o que está implícito desde logo nas suas narrativas de como tudo começou, obrigação (essa de explicar como a sociedade funciona) que partilham com os sociólogos. A banalidade da violência, por exemplo, que nos intriga e angustia, como comungou e como se articula na atualidade com nossos gestos, nossa afetividade, nosso voto."
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