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Thoth 
Escriba dos Deuses
Pensamento dos Povos Africanos e Afrodescendentes
Volume VI

Abdias Nascimento

"Na apresentação do primeiro número de Thoth, correspondente aos meses de janeiro a abril de 1997, situei esta revista no quadro de referência de uma imprensa negra ao mesmo tempo “frágil e valente”, cuja história “se resume a uma peripécia de acidentes e pobreza de recursos”, mas que, não obstante, “merece todo o nosso respeito e gratidão”
por ter desempenhado “um papel histórico fundamental em nossa luta coletiva por liberdade, respeito e cidadania”. Coerente com essa história e com esses princípios, Thoth chega agora ao seu sexto e último número, encerrando-se juntamente com meu mandato de Senador da República.
Não é este, contudo, um momento de lamentação ou melancolia. Pelo contrário.
Pelas páginas desta revista, os leitores puderam acompanhar minha trajetória nesta Casa Legislativa, que procurei transformar em mais uma trincheira de nossa luta. Nos sete projetos de lei que apresentei, bem como nos quase sessenta discursos que proferi, procurei refletir os anseios e aspirações dos afro-brasileiros, tal como expressos na plataforma do movimento negro. Aperfeiçoar a legislação antidiscriminatória, ampliar os recursos jurídicos das vítimas de ofensas raciais, enriquecer os currículos escolares com a história dos africanos na África e na diáspora, estabelecer medidas compensatórias capazes de garantir a igualdade de oportunidades – esses foram os temas em que busquei concentrar minha atuação, na certeza de constituírem a espinha dorsal na solução da questão racial em nosso País.
Mas Thoth não foi apenas um registro de minha atuação parlamentar. Em suas páginas, procuramos, minha equipe e eu, oferecer um amplo panorama da luta negra no Brasil e na diáspora, abrindo espaço a uma gama de assuntos que abrangem desde a história das civilizações africanas até as manifestações mais atuais da rebeldia negra. Pudemos, assim, publicar uma variedade de textos de autores negros do passado, tanto quanto matérias mais frescas, produto de nossos jovens militantes na arena intelectual. Creio termos conseguido, desse modo, dar ao menos uma ideia da riqueza de um pensamento africano que não tem se dobrado às imposições de seus poderosos adversários, nem tampouco se deixado seduzir pelo canto da sereia de ideologias melífluas como a “democracia racial”.
Sei que tudo isso pode parecer um testamento, sobretudo por provir de um ativista – um agitador, como gosto de me definir – com tanto tempo de existência e de dedicação à causa. Essa não é, porém, minha intenção. Depois de todas essas décadas, já não sei viver sem lutar. É o que continuarei fazendo, por meio de meus textos, de minha pintura, de palestras e conferências em foros nacionais e internacionais, na pregação do evangelho da libertação de nosso povo. É essa a missão que recebi dos orixás, e que pretendo continuar cumprindo enquanto eles me derem força e lucidez.
Axé!"
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