Vozes, Corpos e Saberes do Maciço
Memórias e Histórias de vida das populações
de origem africana em territórios do
Maciço do Morro da Cruz/Florianópolis
Karla Andrezza Vieira Vargas
Patrícia Alves
Este trabalho tem por objetivo apresentar reflexões a partir das vozes, corpos e saberes das populações de origem africana, em territórios do Maciço do Morro da Cruz, Florianópolis, ancoradas em perspectivas epistemológicas decoloniais. As motivações para o desenvolvimento dessa escrita iniciaram a partir de experiências pedagógicas em unidades de ensino delineadas pela geografia do Maciço. O Território constituído em pelo menos vinte e uma comunidades, possuí aproximadamente trinta mil moradores e moradoras, em sua maioria de origem africana e em situação de vulnerabilidade social. A compreensão de que este enredo deveria ser mobilizado pelo ensino de História, com vistas a superar visões racialistas e colonizadas é uma das contribuições da pesquisa: pensar a História Local a partir da memória de sujeitos vistos como subalternizados. Foram coletados dez depoimentos, entre eles temos jovens, adultos, idosos, homens e mulheres que carregam a insígnia da cor e que protagonizam saberes. A compreensão teórica partiu essencialmente dos estudos de Aníbal Quijano (2012), Antonieta Antonacci (2013), Catherine Walsh (2009), Gayatri Spivak (2010), Mario Rufer (2011), Ramón Grosfoguel (2008) e Walter Mignolo (2003). O texto está estruturado em dois capítulos: no primeiro, as discussões estão tangenciadas pelas reflexões acerca do ensino de História e a Educação Étnico-Racial e no segundo, apresenta-se o Maciço do Morro da Cruz como território e cenário potente para o registro das narrativas das populações de origem africana inscritas neste espaço. A partir das investigações, identificou-se que currículos escolares baseados em concepções eurocêntricas perpetuam práticas colonizadas e nesta esteia, o ensino da História e da cultura africana e afrobrasileira apresenta limitações que necessitam ser superadas. Assim, lidar com territórios e narrativas fora da geopolítica colonial e moderna, contribui para repensar os debates acerca das relações étnico-raciais na escola. Vale dizer que a partir desse material, foi elaborado um livro de memórias e histórias de vida das populações de origem africana dos territórios do Maciço, como projeto de intervenção didática a ser utilizado por professores, professoras e estudantes em unidades de ensino básico, atendendo as demandas do Mestrado Profissional em Ensino de História.