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Congadas de Minas Gerais
Jeremias Brasileiro

Jeremias Brasileiro é autodidata. Um pesquisador obstinado, cujos métodos de pesquisa em nada deixam a desejar em relação à investigação acadêmica. Seu acervo é riquíssimo e sua capacidade de organizá-lo é de fazer inveja ao bibliotecário da universidade. 

Tudo isso fica claro na exposição que Jeremias faz dos resultados de suas incursões pelo universo do congado nesta sua obra. Ela é resultado de um processo que remonta ao seu primeiro olhar de criança sobre as manifestações congadeiras da cidade de Rio Paranaíba em Minas Gerais. Próxima ao setecentista Quilombo do Ambrósio e de religiosidade muito forte, em Rio Paranaíba fundem-se fragmentos do imaginário medieval,provavelmente com seus "piorréias", "Chicos Tortos" e "Bobals", além da fone presença afro-brasileira que, no conjunto, inspiram o poeta, a crônica, o romance. 

É esse universo que fez despertar em Jeremias Brasileiro, o interesse pela pesquisa do congado no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro. Seu foco são as cidades de Rio Paranaíba e mais especificamente as manifestações do congado em Uberlândia. 

São quinze ternos e Jeremias percorre cada um deles, o congo, o marinheiro, o catupé e o Moçambique, buscando informações importantes para o enriquecimento de seu trabalho. Por outro lado ,também, informações que revelam preocupação, no que diz respeito ao futuro da cultura popular. Sabemos que ela resiste ao processo de globalização , mas até quando, sem perder a sua essência. 

A essência da cultura popular está na sua memória e nos seus significados. E Jeremias Brasileiro, ao adentrar esse universo, é como se estivesse fazendo um estudo da própria árvore genealógica . Um trabalho artesanal da memória de seus antepassados e de outros congadeiros. 

Mas não só. Revitalizar a memória congadeira significa redimensionar o conceito de valores culturais. Manifestações tais como o Congado e a Folia de Reis, dentre outras, precisam sair da simples denominação de "folclore" e adquirirem o "status" de cultura. Marilena Chauí, na década de 80 já chamava a atenção para o fato de que equivocadamente denominamos aquilo que o povo faz de folclore e o que as elites fazem ou apreciam, de cultura. 

Assim, a obra de Jeremias Brasileiro tem um valor inestimável, que não pode ser ignorado. Especialmente nesses tempos em que buscamos tanto uma identidade de brasileiros e a possibilidade de que o Brasil se encontre consigo mesmo. Certamente é verdade, não encontraremos uma identidade, mas várias, nesse universo cultural tão heterogêneo e, por isso mesmo, tão rico. O congado é uma dessas identidades e Jeremias Brasileiro um de seus principais expoentes.

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