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Série Nomes Africanos-Kujichagulia: O Poder de nos Nomearmos, o Poder de Falarmos por Nós


Seh-Dong-Hong-Beh Idia

Kujichagulia é um poder, é um poder que só tem quem se dá, não é dado por ninguém! Adotar um nome africano se tornou um problema no país dos integracionistas, ou melhor, inventaram um problema para isso. Existe um movimento que, de maneira infundada, se opõe a essa prática, mas essas mesmas pessoas não veem problema algum em ver gente preta usando nomes europeus, o absurdo é aderir ao Sankofa e buscar pela reintrodução a ancestralidade africana. Algo errado não está certo, não é? Há uma contradição que paira pelo ar quando vemos determinados atores pretos gritando aos 4 cantos que são descendentes de reis e rainhas e blá, blá, blá...mas não sabem o nome de nenhum ou se sabem, se quer honram seus nomes...Há pretos na diáspora e no continente africano que levam a sério a palavra honra, mas são desmerecidos por isso.


Nosso povo só pode evoluir a partir de símbolos, ritos, processos, conquistas nossas e, começar esse processo por nossas crianças, é de extrema importância!!! Inclusive a importância de ensiná-los a sagacidade e a auto confiança para terem respostas na ponta da língua diante de questões como essa, ter um nome africano.


Alguns pais, tios, avós (pretos)...nos envergonham ao ensinarem a nossas crianças que elas só serão levadas a sério, se carregarem um nome que represente o opressor. Se pensamos como comunidade, as crianças pretas são de responsabilidade de todos nós, então fiquemos atentos ao tipo de informação passamos a elas.


Há um tempo atrás vi uma mulher preta levantando uma crítica tão digna de pena ao questionar com o peito estufado e cheio de brankice "como essa pessoa vai ser encontrada pela polícia usando um nome desses?".


Que absurdo é esse de temer um nome originário e não temer a violência gratuita policial sobre os corpos pretos? Principalmente de homens/meninos pretos nesse país de racistas?

Essa mesma polícia que honra uma estrutura toda brankkka, e que tem preto que comemora quando ingressa nesse sistema para defender gente brankkka. A polícia é um dos nossos maiores temores, e não ser encontrado/abordado por ela ou por quem os apoia, para nós pretos, é lucro!


Adultos pretos com ideias tão ocidentalizadas podem ser péssimas influências para nossos pequenos. Fazer nossas crianças acreditarem que adotar um nome ancestral é um problema, é de uma alienação que nem consigo mensurar o tamanho, fica aquém de qualquer coerência e relevância que aponte para a africanidade sem integração. Que tipo de adulto uma criança sob esse tipo de "educação" pode se tornar?


Um nome africano não é motivo para temer nada, muito pelo contrário, é motivo de orgulho!!


"Eu descendo da nobreza africana" diz a mesma pessoa que na primeira oportunidade aponta o dedo para quem está fazendo o Sankofa e ridiculariza a legitimidade de sua africanidade, ainda que seja um africano na diáspora.


Vai lá na colônia alemã e pergunte se eles acham ridículo ter um nome alemão, vá em qualquer colônia de qualquer outra "cultura" branc'a, em que a maioria das gerações já são nascidas no Brasil, e pergunte se eles acham ridículo ter um nome e sobrenome alemão, chinês, libanês...vai lá!


Aliás, é pra eles que a polícia trabalha, sabia?

Não, não sabia, né?


Se soubesse não falaria tamanha brankice!

Qual é a desculpa?


O processo de chegada ao Brasil?

Entendi!


Quer dizer que como eles vieram a convite, eles podem adotar o nome de suas origens? Já os pretos não, vieramos como mercadoria, então adotar um nome africano é ridículo..., tem que passar o resto da vida mostrando que ainda somos dominados? É isso?


Aliás, a gente vive isso, mesmo que queiramos deixar de ser "descendente de escravo", mesmo nomeando nossos filhos e se renomeando com nomes africanos, estamos fadados a seguir com sobrenomes que não são nossos e não têm a potência, a energia e a honraria africana. Experimente usar a justiça (que é branka) com todos os argumentos mais plausíveis e legítimos de que temos o direito de não ter que carregar o sobrenome do opressor. A primeira alegação utilizada para nos desencorajar usada por eles é a de que não podemos nos desfazer dos sobrenomes de "nossos pais", é uma desculpa rasa e que com certeza tem a intenção de desafiar nossa inteligência, claro, porque ignora o processo histórico pelo qual o preto passou para termos como uma tatuagem indelével, a marca do branko para além das marcas deixadas na pele de nossos antepassados, ainda temos um sobrenome que nos marca como dominados.


Tenho amigos que não conseguiram registrar seus filhos até hoje, porque a lei branka "brasileira" não permite que nossas crianças sigam sem essa marca invisível, porém, muito evidente que o branko nos enfiou goela a abaixo, mas há quem ache isso normal e que seja mais digno que lutar por uma autonomia real e não cheia de limites determinados pelos yurugus.


"Mas um nome tem todo esse poder?"


Qualquer nome, não, nomes africanos têm esse poder sim, porque o nome africano te molda, ele conta a história de sua vida e da vida dos seus. Ele fala sobre o passado, o presente e é a referência para o seu futuro!


Ainda que tudo esteja contra a autonomia de nos auto nomearmos, podemos decidir por nós mesmos que nossos filhos não mais honrarão a um legado que não é nosso e que nos mantém na condição de dominados, ainda podemos adotar nomes que orgulhem nossos antepassados, mesmo de maneira não oficializada pelos brankos, ainda podemos nos valer e utilizar como estratégia a adoção de nomes sociais, políticos fazem isso, artistas fazem isso, lgbtqia+ fazem isso, nós faremos também!


Muito do que nos alimenta quanto ao tocante africanidade, são nossas referências.

Quais são suas referências?


Quem são elas?


Que tipo de referência passamos a nossos filhos para que eles possam honrar nossa ancestralidade?!


Ídolos brancos, admiração pelo estilo de vida do branc'o...?


O que essas pessoas, a forma egoísta como eles vivem têm de tão especial que merecem nossas homenagens e louvores? Merecem inclusive que nossos filhos carreguem seus nomes cheios de uma anergia impura de um passado, presente e futuro de destruição do que não segue sua cartilha de ser incompleto, que não harmoniza com a energia africana, e a ponto de desprezar os nossos e se prestar ao papel de homenagear um povo que tem o histórico de todo tipo de maltrato a nosso povo?


Quem morreu pra nos salvar? Um branc'o? Um personagem criado a imagem e semelhança dos branc'os, pelos brancos para nos manter obedientes e diminuídos?


Que tipo de mensagem estamos passando a nossos filhos quando rendemos homenagens tão vazias e que não dizem nada a nós quanto pessoas pretas?


Qual a riqueza existente nessa mensagem?


Ela honra a quem?


Ao seu opressor ou a história do nosso povo?


Que o tipo de energia e que autonomia entregamos a nossos filhos

quando escolhemos para eles um nome que não honra a nossa

ancestralidade, não honra nossa história e não se comunica com

nossa origem?


A prática do princípio Kujichagulia não pode ser desperdiçada!

 

Próximo título - Nomes Africanos: Honre sua AncestralidadS

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